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domingo, dezembro 26, 2004

Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças

Amiguinhas e amiguinhos, acabo de ver, pela segunda vez esta semana, esta jóia. Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças é, como vocês já devem saber, o último filme de Jim Carrey, fazendo um par romântico bem esquisito com Kate Winslet. Imagino que vocês também saibam que o roteirista deste filme é o Charlie Kaufman que também escreveu os roteiros de Quero Ser John Malkovich e de Adaptação. Feitas as devidas apresentações, de que trata o filme mesmo?

Bom, o filme apresenta a estória de amor de Joel Barish (Carrey) e Clementine Kruczynski (Winslet) sob um prisma no mínimo estranho: Joel descobre que Clementine, após o fim do relacionamento dos dois, utilizou os serviços de uma empresa chamada Lacuna Inc, para apagar todas as lembranças que ela tem dele. Magoado e com raiva, Joel decide fazer o mesmo.

Neste ponto, entra o processo de apagamento das memórias, das mais novas para as mais antigas. Com isso, começamos a ver, em retrospecto, como terminou o relacionamento, como foi ficando ruim, como era, quando era bom e como começou. Simples, não? Seria, se Joel, como a maioria de nós - e aí vai o grande mérito do roteiro de Kaufman, não percebesse que as coisas ruins que aconteceram não transformaram a pessoa que amavámos num monstro odiável. Nesse ponto, ele se arrepende do processo e tenta, de todo jeito, preservar algumas memórias de Clementine, escondendo-as em outras lembranças, as mais díspares possíveis. Durante a tentativa de Joel esconder as suas recordações, os responsáveis pelo processo de apagamento percebem que há algo errado e chamam o dr. Howard Mierzwiak (Tom Wilkinson) para resolver o problema na casa do próprio Joel, onde já estão Stan (Mark Ruffalo) e Mary (Kirsten Dunst). Dr. Mierzwiak consegue colocar o processo nos eixos e nosso amigo Joel tem todas as suas lembranças de Clementine apagadas, conforme a promessa feita pela Lacuna Inc. Tudo certo? Não! Durante o processo com Joel, acompanhamos Clementine com seu novo amor: Patrick (representado por Elijah Wood), funcionário da Lacuna Inc, e que está usando de um expediente, digamos, sujo, para conquistar a moça. Com isso, o cenário fica armado para a reviravolta final do filme, que é bastante inteligente e que me deixou com um sorriso de felicidade no rosto. Quer saber o que acontece? Assista e divirta-se muito.

Ah! Não deixe de prestar atenção à conversa de Joel e Clementine no início do filme, antes da apresentação dos créditos. Não se assuste, os créditos só aparecem depois de uns 20 minutos de filme. :)

Mais uma coisa: não sei se o filme será indicado para o Oscar de Melhor Filme mas tenho certeza que Jim Carrey será indicado como Melhor Ator: o Joel retratado por Carrey é totalmente diferente de seus outros papéis e é representado de forma magistral. O filme foi dirigido por Michel Gondry cujo trabalho eu desconhecia e que tornou o excelente roteiro de Kaufman em uma delícia visual. Reparem nas cenas do banho na pia, na cozinha da mãe de Joel e na cena da chegada do circo. Vale ressaltar, ainda, que o filme é produzido/distribuído pela Focus Features, responsável, entre outros, por Lost in Translation.

Como disse um dos produtores, sobre sua reação ao ler o roteiro, esta é a estória de amor que eu gostaria de ver no cinema, acima de tudo, humana. Um grande filme. Se você gosta de estórias românticas, não deixe de assistir.

domingo, dezembro 12, 2004

Sem Notícias de Deus

Imagine uma estória que começa com um questionamento filosófico atribuído a Epicuro (não me responsabilizo pela informação) sobre a capacidade/vontade de Deus em acabar com o mal. Suponha que esta estória traga, ainda, dois "anjos", Lola, do Céu, e Carmen, do Inferno e que ambas tenham como missão ajudar um boxeador a fazer, com seus atos, sua escolha entre Céu e Inferno. Gostou? E se, além disso, Céu e Inferno forem duas grandes corporações com seus CEO (Chief Executive Officer) em grandes apuros, o primeiro por conta da carência de almas "incorporadas" por mérito próprio e o segundo porque uma nova administração não aprova os métodos antiquados do atual presidente e prefere um Inferno onde a culpa não seja tão importante quanto, digamos, a lotação? Ah! Tem mais: tem muito, muito tempo que Deus não aparece na área!

Se você gostou dessa confusão toda aí em cima, corra para alugar Sem Notícias de Deus, produção espanhola de 2001, escrita e dirigida por Agustin Díaz Yanez e estrelada por Penélope Cruz (Carmen), Victoria Abril (Lola), Fanny Ardant (Marina D'Angelo, CEO do Céu) e Gael García Bernal (Jack Davenport, CEO do Inferno). A estória começa com Lola e Carmen discutindo a questão filosófica descrita aí em cima um pouco antes do começo de um assalto. Desse ponto, o filme volta dois meses no tempo, quando uma reunião no Céu descreve o problema da incorporação de almas por mérito e decide-se enviar Lola para recuperar Manny (representado por Demían Bichir), um boxeador decadente, de modo a salvar o Céu. Do outro, lado, sabendo das condições do concorrente, o Inferno manda Carmen para fazer nosso amigo Manny pender para o lado de baixo. A partir daí, Lola e Carmen entram numa briga de gato-e-rato pela alma do infeliz.

Só que as coisas se complicam quando Jack sente-se ameaçado de ser deposto da presidência (digamos assim) do Inferno por conta do Conselho Administrativo querer uma atitude mais firme, inclusive acabando com esse conceito chato de culpa, criando uma verdadeira "Disneylândia do Mal", de acordo com suas palavras. Daí, tudo muda de figura e Carmen e Lola precisam tomar algumas atitudes um tanto radicais, mas não conto mais nada! Se gostou da bagaceira, corra, alugue e divirta-se. O filme é ótimo.

O Adversário

Sou avesso a dramas, exceto quando um dentre meia-dúzia de atores e atrizes estão a frente dos filmes. Daniel Auteuil é um desses atores. Um sujeito capaz de transmitir dor e doçura com um olhar apenas. Mais conhecido no Brasil pela sua hilária participação em O Closet (Le Placard) de 2001, o ator encabeça o elenco do perturbador O Adversário (L'Adversaire), produção francesa de 2002, que não foi exibida nos cinemas de Salvador, até onde sei.

Tendo visto alguns filmes do Daniel Auteuil, fiquei extremamente curioso, já em 2001, quando tomei conhecimento da estória (ainda em pré-produção). Desde então, tenho esperado ansiosamente pela oportunidade de vê-lo. Finalmente, ontem, o fiz.

A estória é estarrecedora. Em Janeiro de 1993, Jean-Claude Romand matou seus pais, sua esposa e seus filhos antes de tentar se matar sem sucesso. Durante as investigações, a polícia francesa descobriu que Romand se fez passar por médico e colaborador de orgãos internacionais em Genebra por 18 anos. Prestes a ser desmascarado, cometeu os crimes para não ter que encarar a verdade diante de sua família. O Adversário é inspirado no livro do escritor Emmanuel Carrère, de mesmo nome, escrito sobre estes fatos.

O filme abre com uma frase do próprio Carrère, em seu livro: "Pior que ser desmascarado, é não sê-lo." Dai em diante, os roteiristas tentaram mostrar parte do caminho tortuoso do homem, aqui denominado Jean-Marc Faure (Auteuil), em sua farsa, começando com o dia que Faure passa sozinho em sua casa, já com a família morta e contando a estória em retrospecto. A diretora Nicole Garcia, conforme sua entrevista nos extras do DVD, tentou fazer uma "biografia do vazio", deixando o personagem seguir seu caminho até o desenlace final. Um filme simplesmente aterrador e fascinante ao mesmo tempo.

A estória vai e volta no tempo, acompanhando cada passo de Faure enquanto seu mundo de mentira vai lentamente sendo destruído, trechos da vida do personagem em família são mesclados com suas reações após matar a família, fazendo com que o espectador sofra os dois lados das vítimas: Faure e sua família antes e depois do assassinato.

Além de uma estória poderosa, O Adversário é uma aula de cinema. Direção, roteiro, fotografia, iluminação e trilha sonora são todos conjugados para tornar a narrativa mais forte e agarrar os sentidos e sentimentos do espectador, como na seqüência em que Faure tentar contar o começo da farsa ao amigo Luc, onde ele (Faure) é iluminado apenas do pescoço para baixo, tendo sua face na mais profunda escuridão, tal e qual a própria alma do personagem. Talvez este seja um dos filmes mais bem dirigidos de toda a história do cinema, pela mão tranqüila e madura da diretora Nicole Garcia.

Nicole Garcia é certamente responsável por tirar o máximo dos atores envolvidos na produção. Daniel Auteuil tem aqui, provavelmente, sua melhor performance em todos os tempos (ainda mais espetacular que em A Rainha Margot). Uma performance que merecia mais atenção, mas que foi indicada apenas para o César em 2003. Não posso comparar o desempenho dos demais atores e atrizes uma vez que não conheço suas carreiras, mas posso afirmar que todos estão excepcionais.

O Adversário é um filme perturbador, terrível, com uma estória que vai fundo na alma do espectador e o faz refletir sobre sua própria vida, e que é conduzido magnificamente pela diretora e por toda equipe. Sem julgar nenhum dos personagens envolvidos na tragédia, a diretora nos entrega um drama que não será facilmente esquecido. Um dos melhores filmes de todos os tempos.

sábado, dezembro 04, 2004

Vinny (ou que estória é essa da Adriana Calcanhoto loura?)

Bom, este blog deveria, de vez em quando, falar de música. Então, lá vamos nós.

Alguém, por favor, poderia responder para quê serve o Vinny? Tá, qualquer resposta serve, qualquer umazinha... Para mim, essa criatura não serve de nada. É um chato irrecuperável e eu não dou um centavo por um CD deste cantor (nem genérico).

Qual o motivo dessa rejeição ao rapaz? Para começar, na manhã de hoje eu estava passando por uma loja, olho para a TV e lá está a Adriana Calcanhoto com o cabelo arrepiado e loura. E eu do lado de cá da vitrine:

- Oxente, a Adriana Calcanhoto, loura, de novo!?

Era o Vinny...

Tudo bem, tudo bem: pode ser o Ciro Bottini (aquele rapaz simpático e agradável do canal Shoptime) fazendo um bico como Vinny (ou vice-versa). Embora eu tenha quase certeza de esses dois sujeitos são um só. Além disso, dizem que o cara parece com a Marília Gabriela - que certamente não merece um sósia desses.

Como vocês podem ver, o que mais me atrai na figura deste cantor é sua forte presença e personalidade marcante.

Sem contar que "Mexe a cadeira/ e bota na beira da sala/ Mexe a cadeira/ agora bem na minha cara" é demais né?

Resumindo: vou ficar por aqui. Se eu continuo escrevendo dou cartaz a esse cantorzinho.