A Vida, o Universo e Tudo o Mais

segunda-feira, julho 04, 2005

Guerra dos Mundos

Aviso importante: depois de uma longa e tenebrosa ausência motivada pela chegada e ataque dos Triphods alienígenas, consegui voltar ao meu blog com a intenção de publicar pelo menos dois textos por mês.

Brincadeiras à parte, como estou mantendo um blog diário sobre Linux, Open Source, Free Software e companhia, acabei deixando A Vida, o Universo e Tudo o Mais meio de lado. Mas estou de volta.

Dá até medo de sair do cinema, só de pensar que isso pode estar acontecendo agora, lá fora!


Esta frase não foi dita em nenhum spot publicitário sobre o filme Guerra dos Mundos, mas pela minha esposa, quando saímos da sessão do filme, na noite de sábado. Depois dessa frase, passamos a noite de sábado e quase todo o domingo comentando o filme.

Por que? Porque Steven Spielberg fez o melhor filme da sua carreira! Porque Tom Cruise, mais uma vez, apesar do que dizem em contrário, mostrou ser um excelente ator. Seu Ray Ferrier é tão humano quanto eu, ou você. Sofre dos mesmos medos, inseguranças, tem os desejos que qualquer um de nós teria. Porque o roteiro, elaborado por Josh Friedman, leva ao extremo, em termos de cinema, a palavra verossimilhança. Cada um dos eventos do filme é plenamente possível, ou, no mínimo, não pode ser descartado facilmente com o rótulo de impossível.

Talvez, o maior trunfo de Guerra dos Mundos seja colocar o espectador dentro do filme com uma classe e uma facilidade que poucas vezes foi vista no cinema: a todo momento, você sabe o que Ray sabe, nem mais, nem menos. Em apenas um momento do filme, o espectador é afastado da ação para esperar o resultado. Mais exatamente: neste momento particular da história, Ray deixa você e Rachel sozinhos e faz o que deve fazer.

Não, você não leu errado! Ray deixa você e Rachel sozinhos! Spielberg e equipe conseguiram, na minha opinião, algo quase impossível: durante todo o filme você está fugindo junto com Ray e família. Você acompanha Rachel, num certo momento, e não vê Ray chegar. Você não sabe o que está acontecendo lá fora, assim com Ray, Ogilvy e Rachel. O resultado? Você fica tão assustado e desesperado quanto os personagens. Cinema fora-de-série!

Cada elemento de Guerra dos Mundos contribui profundamente para um filme de ficção científica totalmente plausível. Fotografia, direção, roteiro, atuação - o encontro de Tim Robbins com Tom Cruise, na tela, é arrasador - e o respeito às idéias de H.G. Wells trabalham em conjunto para trazer, ao mesmo tempo, diversão e reflexão. É o melhor filme de 2005.

sábado, maio 14, 2005

Ficar velho...

A idéia de ficar velho sempre me assustou, nem tanto pela mudança física, quanto pela mudança mental. Tenho que confessar: sempre achei terrível alguém que ouviu Rolling Stones no vinil, tornar-se um coroa fã de carteirinha de João Gilberto. Nada contra João ou os Stones, mas sempre achei essa "conversão" meio dureza e sempre matutei se isso aconteceria comigo.

Surpresa nenhuma que isso tenha acontecido, certo? Errado! Sempre achei que ia baixar a guarda, mas a alcunha de "coroa-que-curte-rock" afixada em mim pelos vizinhos adolescentes, me fez pensar "consegui, nenhuma das músicas que eu não gostava voltou para me assombrar!"

Isso durou até hoje, molecada. Agora querem saber o pior? Tinha que ser com o DVD do Roupa Nova? Sério! Imagina, um cara roquenrol que nem eu, fã do Iron, do Black Sabbath, que ouviu Ministry e gostou demais, que é fã do pós-punk desesperado do Joy Division, chorar ouvindo "A Força do Amor"! Sacanagem!

Bom, sacanagem, ou não, o fato é que o DVD RoupAcústico, do Roupa Nova, é muito bom. Além dos caras tocarem uma barbaridade, tenho que confessar que grande parte das músicas embalou uma série de paixões, festinhas, brigas e tudo o mais que um menino-que-virou rapaz-que-virou-homem-feito passa quando está crescendo.

Algumas das minhas musicas preferidas incluem: Whisky a Go Go, Seguindo no Trem Azul, Clarear, Anjo, Meu Universo é Você, Dona, Sapato Velho, Roupa Nova - e isso não é nem metade do DVD.

Enfim, um show mais que legal e que vale a pena. Sem contar me fez pensar se não tem mais coisa por aí que eu deixei de gostar por ser metido a besta. É... Acho que aquele show de Benito DiPaula tá na fita.

terça-feira, abril 26, 2005

O Guia do Mochileiro das Galáxias, o filme

Não preciso dizer que sou fã do Guia do Mochileiro das Galáxias, não é? O fato é que, mais uma vez, estou me vendo ansioso por um filme. Já li os dois primeiros livros e estou esperando para ver se a Editora Sextante lança logo o terceiro volume da trilogia (cinco livros).

Nos últimos tempos andei vendo fotos dos sets e dos atores - incluindo meu amigo Marvin, o andróide deprimido mais simpático do Universo, vendo traillers, lendo entrevistas e, bom, a que eu achei mais legal, até agora, foi a do produtor executivo Robbie Stamp, publicada hoje no Slashdot.

Quando é que estréia mesmo?

quarta-feira, abril 20, 2005

Constantine - Segunda Parte

"... no último post sobre Constantine, André disse que achava que Johnny Depp seria o Constantine perfeito, que Keanu Reeves nem ficou tão mal e que esperava que não fosse mais uma adaptação totalmente dispensável de HQs."

Molecada, estou aqui para dizer que eu errei no meu pré-julgamento. O filme é muito bom! (Taí, Muta, o que eu achei do filme!) Talvez seja a melhor adaptação de uma HQ que eu já vi: eu, fã de carteirinha do John Constantine, doido por estórias de terror, adorei. Minha noiva, que não conhecia o homem, não gosta do visual de estórias de horror (aqueles demônios que perseguem a Isabel na primeira descida de Constantine ao Inferno ficaram muito bons), e ficou um pouco perdida com as referências que só os fãs conhecem, gostou muito. Enfim: um puta filme de terror e ação (se é que isso existe).

Sobre o
Keanu Reeves: independente do que digam dele, acho que foi a melhor escolha para o John Constantine. Aquela cara de desesperado misturado ao jeito de cachorro sem dono, sem ter onde cair vivo, já sabendo para onde vai depois de morto e tentando, de todo jeito se livrar do seu destino talvez não fosse bem incorporada por um cara que é casado, pai de família e mudou para o país da esposa (o Johnny Depp).

O filme começa com um mexicano pobre, fuçando umas ruínas e encontrando a Lança do Destino, que, contam as lendas, é a lança que tirou a vida de Jesus Cristo, durante a crucificação. Além disso, verdade ou não, diz-se que Hitler a procurava, entre outras tantas relíquias religiosas que, supostamente, dariam poder ao seu possuidor. O fato é que quando Manuel, o nosso amigo mexicano, descobre a Lança, ela está envolta em uma bandeira nazista. Esse pequeno detalhe dá uma amostra do que vem pela frente: um filme de ação e terror que dá máxima atenção aos detalhes, satisfazendo tanto o fã quanto o espectador casual.

Além do estilo de estória me agradar, teve um detalhe da produção que me chamou a atenção, apesar de assistir filmes por mais tempo da minha vida do que seria normal: a escolha do elenco. Ainda que o Keanu Reeves em nada se pareça com a figura do Constantine dos quadrinhos, ele ficou perfeito. Cada um dos personagens tem a aparência que sua história de vida lhe propõe. Isso vale para Angela/Isabel (
Rachel Weisz, linda e maravilhosa como sempre), Gabriel (Tilda Swinton) , para Balthazar (Gavin Rossdale) , para Chas (Shia LaBeouf), para o Padre Hennessy (Pruitt Taylor Vince) e para Lucifer (Peter Stormare). Vale lembrar, ainda, que este é o primeiro longa-metragem do diretor Francis Lawrence, conhecido por dirigir videoclips de gente como Britney Spears, Will Smith e Aerosmith. Se eu soubesse disso antes de ver o filme, ficaria preocupado!

Gostei muito do filme e recomendo para quem é fã de terror. Espero que as continuações venham e que personagens marcantes dos quadrinhos (como Etrigan, um dos que mais gosto) marquem presença.

Só um detalhe que aconteceu aqui em Salvador e que muita gente reclamou: a cena final, após os créditos, que dá espaço a uma continuação, foi exibida com todas as luzes acesas. Ou seja, até agora não sei quem é que está conversando com o Constantine com os olhos vermelhos de mestiço! Saco, só vou saber em Constantine II...

segunda-feira, abril 11, 2005

É na mudança que as coisas acham repouso (ou porque não gosto mais de A Vida de Brian)

Heráclito de Éfeso, conhecido como O Obscuro, chegou até a maior parte de nós por conta de suas reflexões em relação à natureza da mudança e da relação do homem com este processo. Idéias tais como:

Você não consegue se banhar duas vezes no mesmo rio, pois outras águas e ainda outras sempre vão fluindo.

Ou

É na mudança que as coisas acham repouso.


Depois de quase um mês passado após ter revisto o filme A Vida de Brian, do Monty Python, Heráclito de Éfeso trouxe algumas respostas para a minha reação ao filme, que vi pela primeira vez aos 20 anos, fazendo farra com um bando de amigos.

Fiz questão de rever o filme depois de ter passado a frequentar o site Garotas que Dizem Ni e o Fórum associado. Para quem não sabe, o Ni do título do site vem dos Cavaleiros que Dizem Ni, presentes em Monty Python e o Cálice Sagrado.

Pois bem. A revisita ao filme que tanto me agradou no começo da idade adulta foi uma decepção. Fiquei tentando descobrir porque, hoje, a história de Brian de Nazaré, da superprotetora Virgem Mandy e das inúmeras facções de luta contra os romanos, com todas as idiossincrasias que os próprios Pythons devem ter visto na sociedade britânica da década de 70, não conseguiu tirar de mim mais que um ou dois sorrisos amarelos.

Questionei-me muito acerca daquilo que gosto e que não gosto - e que ponho como absoluto. Acerca da minha mania de certezas sobre as coisas. Somente para descobrir que tudo aquilo através do que me defino pode não ser verdade, porque me definir através de algo, ao invés de conviver com a contradição de que minha essência é a mudança, é falho.

Ficou a lição de que tudo realmente pode mudar, mas que permanece o que sou lá no fundo da minha alma. O Brian de 1990, é uma lembrança boa, um momento do qual jamais vou esquecer. O Brian de 2005 teve muito pouco a me dizer.

Como poderia sugerir Heráclito de Éfeso, A Vida de Brian jamais poderia ter sido vista pela mesma pessoa duas vezes. O Rio do Tempo flui e flui em nós e nos leva a lugares diferentes. É assim, e é deste modo, como diz O Obscuro, que as coisas acham repouso.

sábado, abril 09, 2005

Vidocq (ou Sim, eu lutei muito para ganhar este Razzie...)

Los Angeles, 26 de fevereiro de 2005.

Esta é a estória real de uma lutadora, de uma mulher que jamais desistiu em toda a sua existência. Vencedora do Oscar (2002), do
BET Awards (2002), do Bambi Awards (2002), do Festival Internacional de Berlin (2002).

Esta atriz consagrada finalmente conseguiu o prêmio da sua vida, o
Golden Razzie de Pior Atriz de 2005, um marco na estória dos Razzies, no aniversário de 25 anos. Segue o discurso da atriz, ao receber o prêmio:

"Eu lutei muito, por toda a minha vida, para ser reconhecida como a mulher mais competente de minha profissão. Encarei todos os desafios, fiz papéis que poucas mulheres arriscariam. Fiz de tudo para chegar até aqui! Para mim, é uma honra receber o Razzie de Pior Atriz, quando este prêmio completa 25 anos.

Mas não pensem que foi fácil! Não, meus amigos e amigas, primeiro, tive que escolher um roteiro sem qualquer possibilidade dramática, encarar uma direção de arte que envergonhasse um garoto de pré-primário e envergar um figurino digno de demissão do responsável.

Entretanto, nada disso seria possível sem a colaboração de um diretor que tivesse a garra necessária para tornar horrenda uma estória já capenga.

Por isso, estou aqui, hoje, com este prêmio nas mãos.
Pitof, obrigado por tornar Catwoman pior do que jamais poderia ser. Eu te amo! Obrigado!"


Bom, molecada, hoje eu sei por que o filme Catwoman foi aquela desgraceira total: tive o desprazer de ver o primeiro filme do ser canhestro auto-denominado Pitof. Se um dia alguém der de presente a um de vocês uma tranqueira bisonha chamada Vidocq, faça um favor a si mesmo, use o DVD como descanso de panelas à mesa.

quarta-feira, março 30, 2005

A Vila

Imagine que você é um jovem, na casa dos 20 e poucos anos. Imagine que você mora numa Vila do começo do final do século XIX. Imagine que você não pode sair dos limites da sua Vila porque criaturas que habitam a Floresta em volta não permitem. Existe uma "trégua" entre os habitantes da sua Vila e as criaturas da Floresta: você e seus concidadãos não entram nas matas, não usam vermelho, a cor proibida, e, em contrapartida, as criaturas se mantém no seu habitat, sem atacar os moradores.

Sendo esse jovem de 20 e poucos anos, chamado Lucius Hunt, você vê medicamentos acabando, crianças morrendo por doenças controláveis por medicamentos disponíveis nas "cidades" fora da Floresta. Você acha que deve ir buscar tais medicamentos, tem certeza que as criaturas irão permitir sua passagem ao saber de suas boas intenções, mas, ainda assim, você respeita as instituições e só irá se os "mais velhos" dentre os moradores da Vila permitirem. Mas os "mais velhos" não permitirão sua saída porque fizeram um juramento de que ninguém na Vila voltaria à violência das cidades. Você parece ser a única pessoa da Vila diposta a encarar os perigos da Floresta para ajudar seus concidadãos. Mas... E se você precisasse de tais medicamentos, os "mais velhos" deixariam alguém atravessar a Floresta, em busca da cura? Existiria alguém disposto a correr os riscos? As respostas as estas perguntas (e outras perguntas mais graves ainda) estão no último filme de
M. Night Shyamalan, A Vila, de 2004.

Devo confessar, agora, que não fui ver o filme nos cinemas por conta da minha decepção com
Sinais, mas que, assim que A Vila saiu em DVD, decidi assistir. Encabeçado por um elenco de primeira linha, composto por, entre outros, Joaquin Phoenix (Lucius Hunt), Adrien Brody (Noah Percy), William Hurt (Edward Walker), Sigourney Weaver (Alice Hunt) e pela espetacular novata Bryce Dallas Howard (Ivy Walker), em seu primeiro papel principal, o filme conta a estória de um grupo de famílias que vivem em uma vila isolada do mundo para fugir da violência das cidades, circundada por uma floresta na qual vivem criaturas míticas. Os dois grupos convivem pacificamente, respeitando algumas regras:
  • Os humanos não entram na Floresta;
  • Os humanos não podem usar a cor proibida, o vermelho;
  • Os monstros não passam dos limites da Vila.

Esse contexto, nas mãos do diretor indiano, resulta no seu melhor e mais equilibrado filme. A tensão e o medo presentes em O Sexto Sentido estão presentes, bem como a dualidade presente em Corpo Fechado. A Vila cumpre tudo o que Sinais prometeu mas foi incapaz de cumprir, na minha opinião por conta do papel principal ter sido dado à Mel Gibson. Joaquin Phoenix tem mais uma atuação primorosa e conduz o filme de maneira sutil e poderosa. Adrien Brody, como Noah, merece toda a atenção do espectador pela sua atuação maravilhosa. William Hurt, Sigourney Weaver e os demais atores dão vida e múltiplas dimensões aos seus personagens, compondo o profundo quadro do filme. Mas o grande destaque do elenco vai para a novata Bryce Dallas Howard, que retrata a jovem Ivy Walker de maneira tocante.

O roteiro do filme é surpreendente, como seria de se esperar de Shyamalan, mas é também equilibrado, com profunda atenção aos personagens e suas características. O diretor toma a opção de não enganar o espectador. Ao menos, nosso conhecimento da verdade é tão grande quando o de Lucius e Ivy. Além disso, o roteiro discute temas bastantes presentes no nosso dia-a-dia, incluindo aí a violência cotidiana e nosso desejo de se salvaguardar dela. Apesar do que muitos disseram da surpresa final ser fraca ou decepcionante, o final da estória, que se desenha aos poucos durante o filme, é o mais forte da carreira do diretor, embora seja o de menor impacto.

A Vila é um filme que prende o espectador pela sua estória de suspense bem escrita e dirigida, pela doçura e humanidade dos personagens, e pelas situações e soluções que propõe ao espectador atento. O último filme que me fez refletir tanto em relação à estória em si e ao significado da metáfora por muito tempo foi O Sétimo Selo. Além de tudo isso, Shyamalan conseguiu escrever aquela que hoje eu considero a melhor cena de declaração de amor de todos os filmes que já vi. Isso não é pouco. Este é o melhor filme de M. Night Shyamalan.

sexta-feira, março 04, 2005

A Sangue Frio - Até o fim

Molecada, fiquei em débito com vocês sobre minhas aventuras no mundo de A Sangue Frio, do Truman Capote. Não consegui, simplesmente não consegui escrever nada enquanto estava lendo. Terminei na madrugada de ontem para hoje, finalmente. Foi quase um parto!

O livro é fabuloso! A estória é completamente dolorosa, de qualquer lado que você olhe, e no final eu já não sabia o que pensar: quem deles deveria ser enforcado? Quem matou realmente? Dick e Perry, ou somente Perry? Isso é realmente importante? Ficaram mais perguntas que respostas a respeito do homícidio múltiplo.

Mas deixa eu falar das três partes seguintes do livro e depois eu volto às perguntas que ficaram na minha cabeça.


Pessoas Desconhecidas

Nestas parte, o autor apresenta os dias que se seguiram ao assassinato da família, enfocando o sofrimento das pessoas próximas, os primeiros passos da investigação do assassinato, a falta de pistas e o dia-a-dia de Dick e Perry após deixar a cidade onde mataram os Clutter.

Com isso, ficamos conhecendo mais a fundo, da perspectiva de Capote, cada um dos personagens dessa estória. Focando principalmente na fuga dos assassinos, nas motivações, nas possibilidades de cada um deles. Apesar de assassinos, o autor os apresenta também em suas faces humanas, no sentido filosófico que nós conhecemos. No final das contas, enquanto Perry e Dick vão ao México, gastam todo o dinheiro arrecadado com roubos e voltam para os Estados Unidos, descobrimos o quão humanos eles são e, com isso, ficou na minha cabeça a seguinte pergunta: Quantos de nós seriam capazes de levar outra vida em frente, com os caminhos pelos quais Dick e Perry passaram? Para nossa sorte, parece que a maioria das pessoas não toma esse caminho.

Não senti compaixão dos assassinos, mas fiquei pensando, mais uma vez, se a pena capital é a solução para tais crimes.


Resposta

Na terceira parte, Capote, mostra a descoberta das primeiras pistas sobre a identidade dos assassinos, o avanço da investigação das pistas, o retorno de Perry e Dick aos Estados Unidos, passando pelo Kansas onde os crimes foram cometidos até serem presos em Las Vegas e extraditados para o Kansas para o julgamento.

Nesse meio tempo, Truman nos oferece um passeio um pouco mais fundo na alma dos dois criminosos, indo desde a compulsão pedófila de Dick à personalidade dividida de Perry, capaz de cometer tais crimes mas ainda assim sem querer que suas vítimas passem por desconfortos outros que não o sofrimento da morte anunciada. Os depoimentos dos dois são profundamente chocantes e aviltantes. Fica a mesma pergunta que a Clara, do Garotas que Dizem Ni, se faz em seu texto: Por que os dois mataram os Clutter?

Em seguida, o escritor descreve a chegada dos presos à Garden City, vizinha de Holcomb, onde os Clutter foram mortos, contrastando o alvoroço inicial da imprensa, talvez tão à espera de sangue quanto o autor, com a reação dos moradores da cidade: entre incrédulos e chocados, sem espaço para vingança além daquela proporcionada pela justiça.


O Canto

A quarta, e última, parte do livro narra o período antes do julgamento dos assassinos, quando o autor "passa" a palavra à senhora Josie Meier, esposa do sub-xerife de Garden City e moradora da Residência do Xerife, no mesmo prédio do tribunal e da cadeia do condado de Finney. A sra. Meier, a seu modo, traça um perfil dos dois homens enquanto se acostuma com eles.

A seguir, o julgamento é narrado nos termos dos depoimentos mais importantes, incluindo o de um antigo conhecido de Perry Smith, Don Cullivan, diante de quem Perry assume não ter nenhum arrependimento pelos crimes cometidos. Perry e Dick são condenados à morte por enforcamento.

Com a condenação, Capote apresenta o período que os dois criminosos permanecem presos enquanto a data da execução vai sendo adiada. Por fim, os dois são executados na madrugada de 14 de abril de 1965, quase 6 anos após o assassinato da família Clutter.


E agora?

Quando comecei a ler o livro, minha intenção era apresentar um "passo-a-passo" da minha leitura, sem maiores pretensões. Mas, como quase sempre, as coisas não andam no compasso que desejamos e me vi tomado pela brutalidade dos crimes, pela dor dos vizinhos e amigos da família, pela dúvida quanto ao desfecho da estória, ao conhecer a vida dos criminosos. E principalmente pela questão que, na minha opinião, perpassa todo o livro: Perry Smith e Richard Hickock são monstros desalmados, cada qual com sua perversão, seu quinhão de violência? Ou dois seriam também vítimas, responsáveis pelos seus atos, mas ainda assim vítimas daquilo que a vida ao seu redor lhes ofereceu? Acho que nenhuma das duas perguntas é capaz de nos guiar para entender os acontecimentos de 14 de novembro de 1965.

Em que pesem as dúvidas levantadas sobre a credibilidade de Truman Capote ao escrever seu romance-reportagem, em que pese a perceptível intenção, até certo ponto, de humanizar os assassinos, A Sangue Frio é um doloroso passeio pelas extensões da alma humana, como já disse antes, e deve ser lido por qualquer um que se interesse em entender como o mesmo ser humano capaz de desejar aproximar-se do ideal filosófico de humanidade é capaz de cometer atos brutais como os de Smith e Hickock.

terça-feira, março 01, 2005

A Sangue Frio - Os últimos a vê-los com vida

Antes de começar este texto, deixa eu comentar duas coisas importantes. A primeira, até ler este texto, no Garotas que Dizem Ni, eu não conhecia o livro A Sangue Frio. Se ouvi ou li algo sobre ele, simplesmente apaguei da minha memória. A segunda é que até então, eu não sabia quase nada sobre Truman Capote, exceto o nome e o fato de que uma foto dele ilustra a capa do single The Boy With The Thorn in His Side, do The Smiths.

Dito isto, devo dizer que depois que li o texto, fiquei extremamente curioso sobre o livro. Tenho uma compulsão em entender porque alguns dos nossos semelhantes tomam a trilha dos dois assassinos do livro. Isso me fez comprar o livro na primeira oportunidade e começar a lê-lo quase compulsivamente.

O livro, se você leu o texto da Clara já sabe, trata do assassinato da família Clutter, pai, mãe e dois filhos adolescentes, na cidadezinha de Holcomb, no Kansas, em novembro de 1959, por Perry Smith e Richard Hickock (Dick). Truman Capote, que se orgulhava de ter criado um novo gênero literário com este livro, passou um ano e meio morando na cidade e conversando com os moradores, policiais e com os assassinos, sem uso de notas ou gravador. Passou cerca de 5 anos mais para reunir todas as informações e escrever o texto, originalmente publicado na revista The New Yorker, em quatro partes, em 1965, e lançado como livro no ínicio de 1966.

Quando comecei a ler o livro, tinha a intenção de fazer pequenos posts comentando minhas impressões no dia-a-dia da leitura. Não consegui. Não dava para largar o livro meia hora antes de ir dormir para escrever. Se você, como eu, gosta de estórias policiais e pensa que a realidade pode ser mais cruel que qualquer escritor, sua reação pode ser parecida com a minha. Decidi comentar minhas impressões após acabar de ler cada parte do livro.

Os últimos a vê-los com vida é o título da primeira parte do livro, onde Capote narra, a partir das entrevistas, o último dia de vida da família Clutter, bem como a preparação de Perry e Dick para um "trabalho". Ocorre que esse trabalho, planejado com antecedência, inclui o assassinato de qualquer testemunha. A primeira parte termina com a descoberta do crime, na manhã do domingo seguinte à chacina e mostra as primeiras reações das pessoas da cidade.

Truman retrata a família Clutter e os assassinos como extremos de um mesmo mundo, ao menos nesta primeira parte, ambos decididos a construir o seu futuro sobre suas premissas e com consciência disso. Já sabemos como a estória termina, Capote tenta nos mostrar o que está oculto no caminho que leva ao desenlace que conhecemos.

A Sangue Frio é um livro denso, poderoso. A construção do texto como um "romance de não-ficção", conforme definido pelo autor, torna-o forte, encantador e assustador ao mesmo tempo. Parafraseando Matinas Suzuki Jr, autor do posfácio da nova edição brasileira e coordenador da série Jornalismo Literário, da qual o livro faz parte, nem tudo é verdade, apesar de verdadeiro. É um livro para ser devorado sem perder de vista que o cerne da alma humana está ali exposto com todas as suas contradições.

sábado, fevereiro 19, 2005

Constantine

Sou um fã confesso de filmes, livros e quadrinhos de terror e suspense. A prateleira de filmes de terror de uma locadora de filmes me encanta o mesmo tanto que me assusta - vamos lá, alguns filmes são tétricos. Pense comigo: como é que se produz um filme chamado Frankenfish? Pode ser até bom, mas esse vai ser no Supercine e pronto.

Mas eu quero mesmo é falar de um personagem que me atraiu nas primeiras estórias que li do Monstro do Pântano, da DC Comics, e que me deixou completamente encantado com o tom sárcastico, com o humor negro até o talo e com a humanidade da peça. Se você lê quadrinhos, aposto que você pensou em John Constantine!

Pois é, molecada, estreou ontem, nos Estados Unidos, o filme Constantine, baseado no personagem. Tenho que dizer, de cara, que acho que o ator certo para viver o John Constantine é o Johnny Depp. Dito isto, preciso confessar que as primeiras imagens que vi do Keanu Reeves encarnando o sujeito não ficaram tão ruins assim...

O fato é que desde que comecei a ouvir falar da produção de um longa metragem sobre o personagem fiquei completamente doido para ver o filme pronto. Ainda não consegui descobrir a data de lançamento no Brasil, mas tenho a impressão de que vou estar na fila no dia da estréia.

O único problema, até agora, é que quem assistiu o filme ontem já começou a comentar no IMDB e, bom, as críticas não foram nada animadoras. Estou na expectativa pelo filme e espero que não seja mais uma adaptação totalmente dispensável de HQs.